segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Esculturas no Goethe


















Abertura: 20 de outubro de 2009, às 19h
Local: Galeria do Goethe (24 de outubro, 112 - Porto Alegre
Visitação: 20 de outubro a 12 de novembro, de segunda a sexta, das 10 às 20h. Sábado, das 10 às 12h
*As esculturas dos artistas portoalegrenses foram selecionadas pelo júri da 10ª edição do concurso de artes plásticas do Goethe-Institut Porto Alegre.


  
Arte como questão
No cenário artístico contemporâneo, no qual freqüentemente os artistas tendem a ativar o lugar e o contexto de suas obras, é habitual serem expostos diversos procedimentos que levantam questões, não somente em relação à arte e seus limites, também no que diz respeito às fusões entre a arte e a vida. Os dois trabalhos que se dispõem nesta exposição surpreendem. Oferecem, em um único tempo, duas vertentes para se perceber a arte no espaço. Muito além disso, levam a centrar a atenção em  aspectos que extrapolam a insuficiente aproximação retiniana;  formulam, cada obra a seu modo, problemas, aqueles que perturbam nossos hábitos perceptivos, ao testarem, por uma atitude experimental, outras formas de materializar o pensamento crítico em meio à produção de arte.
Leonardo Fanzelau e Túlio Pinto trazem neste âmbito, cada um a seu modo, obras nutridas de uma sutil complexidade; qualidade esta rara em um mundo artístico afeito ao jogo fácil das imagens, inseridas em um circuito que muitas vezes absorve passivamente qualquer manifestação, em ausências de uma atenção mais criteriosa dos fatos artísticos.  Aqui ao contrário, as obras colocam-se elas mesmas como discussão sobre a natureza dos trabalhos, sobre seus materiais e o lugar no qual intervém, também sobre seu potencial de investigação.
Uma escada tripartida colorida, daquelas que tingem de vivos matizes o cotidiano das praças, subverte na exposição a banalidade dos playgrounds de tantas crianças felizes.  Diversão sem fim” ganha no novo espaço (que não é o seu próprio), um trágico e irônico destino, ao tornar-se um instrumento de aprisionamento, pois ao alto do brinquedo balançam astuciosas algemas.  A arte de Leonardo Fanzelau inquieta a lógica das coisas e de seus lugares, rejeita convenções, traz à luz o absurdo. É obra na qual o autor se vale de objetos originalmente desprovidos de pretensão artística, tal como Duchamp buscou em seus longínquos readymades. Mas este jovem artista vai além dessas referências: abala as relações funcionais destes artefatos contraditórios, pois juntos mostram-se incompatíveis em suas funções. O prazer e a liberdade que os brinquedos geram, recusam, por sua vez, a prisão ou qualquer coerção. É uma prática de desconexão e conduz o espectador, neste processo, ao nível da ideia. Traz uma sutil latência de problemas formulados em relação à nossa experiência conhecida do mundo.
Como contraponto, emerge no mesmo espaço expositivo, um outro tipo de discussão. A proposta de Túlio Pinto debate questões espaciais e de território dentro da galeria, mas em especial, rasga a percepção habitual do sítio conhecido em direção à fisicalidade dos materiais. Em meio à dominante virtualidade que constitui a cultura tecnológica dos nossos tempos, os trabalhos deste artista projetam com vigor e como questão essencial, a matéria no mundo. A desconexão que Leonardo apresenta em relação à ideia em sua arte, ocorre de modo diverso na instalação de Túlio; este faz eclodir uma visível tensão na substância física dos elementos que situa no espaço.
Este último trabalho força a natureza, não tanto a ideia, coloca em xeque a gravidade, não sua temática, inquire sobre as cargas físicas da matéria e as dilacera, não sobre seus usos. Interroga também sobre os limites espaciais e, neste processo, sobre os limites da própria arte. É obra na qual também se chega a duvidar sobre a familiaridade das nossas experiências perceptivas, tal como na de Fanzelau, mas por sentidos diversos: esta última pelo que nossa cultura nos faz conhecer sobre os objetos e seus empregos, a outra, pelo que se tem consciência dos fenômenos materiais e de sua conduta na natureza.
Ambos trabalhos provém de processos geradores de desfamiliarização e de um poético estranhamento, ao iluminarem caminhos para se pensar a arte hoje.
Através de um alto potencial de criticidade e simultâneo conteúdo poético, compreendem ambos a arte como questão. Trazem a chance de partilhar um valioso espaço de trocas, indagações e afeto em relação às experiências da vida através da arte, as que estas duas propostas artísticas sabiamente  nos propõem e nos envolvem.                                                                                                                
Mônica Zielinsky - Setembro de 2009”
 
 

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